Um belo dia depois do expediente Quando eu botava no cabide o meu terno Tive um mal súbito, morri de repente Indo parar nas profundezas do inferno Passei no céu mas resolveram me barrar, Burocracia lá no céu é o que é que há É que eu morri sem preencher regulamento Que dá direito a residir no firmamento. Levei cartão, ganhei status de banido, Pois me levaram direto pro purgatório E um anjo disse: faça um último pedido! Lhe perguntei: onde é que fica o mictório? Fui sem escalas lá pros quintos dos infernos Onde satã me fez assinar um caderno E disse: nego tudo aqui é organizado, Teve um rebu, agora tudo é estatizado. Lá no inferno todo mundo come alcatra, Só dá ministro e presidente de nação Tá entupido de fãs do Frank Sinatra E de apresentadores de televisão. Tem ruas largas onde até um jato pousa, A maior delas chama Anastácio Somoza E adivinhem quem por lá comanda a plebe: é o Adolfinho com o Xá Reza Palevhi. Lá no inferno as mulheres andam nuas, Mostrando tudo até o fruto proibido Mas seu satã ferra com a gente, senta a pua É que no inferno nenhum homem tem libido. Ontem eu fugi pro paraíso com um sujeito Que fez o mapa do inferno pelo jeito Diz que é poeta e cheio dos guéri-guéri, Seu nome acho que é Dante Alighieri...