A doença silencia Num canto qualquer do corpo Que tomou por moradia Pouco a pouco, mas eu canto O acidente grita Que a vida é só por enquanto No canteiro da avenida Corre o sangue, mas eu canto Com minha voz de naufrágio Adágio que não se ensaia Atraio esse barco frágil Para bem longe da praia E quando ele vem chegando Para bem perto de mim Passam horas que são anos Se aproximando do fim Mas se houver uma saída E se ela se oferecer Entre a vida que revida Na que ainda vai nascer E a morte que dá medida Pra cada desfalecer Bem-vinda e bem-despedida Eu posso deixar de ser Essa sina prometida Para apenas deixar ser E envelhecer em seguida Como tudo que viver Na beira da maré cheia Silenciar a sereia Sentir os meus pés na areia E esperar amanhecer