Que estranha é esta lua Tão cheia como um ventre Senhora das marés Da noite feiticeira? Que estranha é esta lua Suspensa e de repente Desmaiada a meus pés Com clarões de fogueira? Que estranha é esta lua que se mostra à cidade Despida sem pudor, em quartos minguantes? Que estranha é esta lua. Mulher-corpo à vontade Num convite de amor, à noite dos amantes? Que estranha é esta lua que dum quarto crescente Em fases se renova, com gestos de bailado? Que estranha é esta lua, do ventre do poente Nascida lua nova, candeia do meu fado? Às vezes reconheço que há lágrimas de lume Rasgando o meu olhar, quando te vejo nua Assim, quase adoeço no peito este ciúme E a voz quer-me gritar, que estranha é esta lua!