Kishore Kumar Hits

ÀIYÉ - O Mito e a Caverna текст песни

Исполнитель: ÀIYÉ

альбом: Gratitrevas


NÃO
É o primeiro grito que ouço
É a primeira palavra que ouço, a linguagem volta a mim
É o primeiro som que me lembro, antes não conseguia falar, antes não conseguia pensar
Imóvel
Corpo sobre corpo sobre corpo ao lado de corpo
Braço direito sobre costas de outro corpo sobre outro corpo
Braço esquerdo colado ao corpo sobre outro corpo, sobre outro corpo
Pernas unidas esticadas enfiadas embaixo de outro corpo
Cabeça sobre costas sobre pés esticados ao lado de outro corpo, um outro corpo
Ouço também o som de pele queimando, de carne queimando, de osso queimando
De ar evaporando, de corpos derretendo
De pele virando fogo, de carne virando fogo, de osso virando fogo
De suor virando ar, de ar virando fogo, de líquido escorrendo
Escorrendo, escorrendo, escorrendo
E virando fogo
Impossível estar debaixo de tanto corpo
Imóvel porque todos tentam se mexer e ninguém se mexe
De quando em quando uma cachoeira de sangue me banha
Sangue misturado com suor, misturado com lágrima
E ninguém fala nada, e ninguém come nada, e ninguém pensa em nada, e ninguém tenta nada, e ninguém faz nada
Apenas tenta se mexer
Pra lados distintos e distantes
Mas toda gente ouviu quando alguém finalmente um dia gritou
NÃO
E nos acordou de nossa imobilidade
Tudo porque alguém algum dia disse não
E me acordou da minha imobilidade
No entanto permanecemos imóveis
Tentando nos mexer
Tentando ir e vir, pra lados distintos, pra lados distantes
Mas se todos nos movermos para o mesmo lado, talvez consigamos todos sair desse lugar
Mas se então todos os corpos se moverem juntos para o mesmo lado
Quem vai sobrar do outro lado?
Fumaça
O tempo é um céu cinzento e logo vem a tempestade
Quem nasceu com liberdade já não sabe o quanto custa
Imagina então, como era bom, na época de Zaratustra?
O sangue de quem gritou não pra que o filho não precisasse mais gritar não
Mas a criança, cega, não entende nada
Conta mil vezes a mentira inventada e é condecorada por boa conduta
Foi assim que Maria Madalena virou puta
E tantas outras depois dela
Pela boca do homem, a boca que come, a boca do inferno
A mesma que constrói o mito
Mas os mitos caem por terra
Os mitos caem por terra, um após o outro, quando encontram a verdade
E a verdade chega, minha amiga, ainda que tarde
Ela ecoa pela boca de quem um dia disse não
E repetiu
Repetiu
Afirmou
E gritou até que todes ouvissem
E esse NÃO ecoou pelas chamas
E esse NÃO atravessou os corpos e ocupou praças
Esse NÃO tomou avenidas e derrubou impérios
Não vou consentir
Não vou permitir
Não vou me adequar
Não vou me adaptar
Não vou obedecer
Não vou recuar
A voz resiste e a fala insiste dentro de quem vive
Hoje não, hoje não, hoje não
Ele não
Em todo não há uma revolução
Há uma revolução a cada não
Em todo não há uma revolução
Há uma revolução a cada não
Pode ser que tudo isso não passe de um sonho
E vamos acordar quando todos dissermos juntos: Não

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