Quis ser melhor do que eu sou ao construir-me Saber melhor onde eu estou e instruir-me Mas a teoria ameaçou destruir-me O negativismo começa a consumir-me Quando penso só no que 'tá errado Com a intenção de corrigir-me Com raciocínios e metáforas, lógicas inventadas Quando na verdade é inútil definir coisas tão abstractas As emoções são autênticas, indefinidamente nítidas Perderam milhões de detalhes cada vez que foram descritas Nunca apresentam proporções exactas Percorrem-nos o corpo, às vezes vertem-se pelas pálpebras O meu maior erro foi pensar que eram todas mecânicas Ou a consequência lógica de fórmulas químicas Eu nunca acreditei em Deus mas sempre me iludi com palavras Porque acreditei como um fanático noutras teorias A certa altura estavam todas certas e erradas São só frases, coisas que foram pensadas e que foram escritas Passei noites a olhar para o céu a fingir que sabia onde estava Contentado com qualquer resposta que me fosse dita Mas só sabes quando vês Quando ouves, quando tocas, quando sentes Todas as outras és tu que acreditas Habituamo-nos a julgar os outros pelos seus comportamentos Como se as nossas escolhas fossem assim mais legítimas Toda a gente precisa de sentir os pés assentes E a consequência disso é ter de caminhar por entre as linhas Instintivamente escolhemos as que 'tiverem vincadas Dá-nos algum conforto saber que já foram seguidas E é nesta fase que as pessoas se sentem mais integradas Sempre que saírem, ficarão perdidas Não entendes que o que se diz é diferente do que se sente? Que as mesmas palavras cabem nos outros sentimentos? Que há uma distorção enorme entre os nossos argumentos? Que nunca mais nos entendemos se falarmos na mesma língua? Acordamos p'ra realidade com as peças já assentes Sem fazer perguntas nenhumas, apenas seguindo as correntes Obedecendo cegamente Procurando um enquadramento com os outros Que nunca se ajustará perfeitamente com o que somos Eu digo mais sem dizer nada Eu digo mais sem dizer nada Eu digo mais sem dizer nada Eu digo mais sem dizer nada A esperança está no silêncio na empatia e nos gestos Na cumplicidade dos olhares como demonstração de afecto Cada vez que se fala sinto que a intenção se perde Como a informação se deforma sempre que alguém a repete Vou numa direcção diferente sem saber se estou certo Desapegando-me gradualmente do pensamento em excesso Do sentimento que me prende às palavras que eu expresso Deixando-me ir na corrente sem pensar ou não se regresso Por mais que me explique a mim próprio Mão me entendo, confesso Não dá p'ra escolher um lado sem escolher também o inverso Porque não somos todos iguais, nós somos tomos diferentes E mudamos a cada momento como é que podemos ser coerentes? Condenados a expressar-nos com palavras que nem escolhemos Que evoluem mais lentamente Do que o ritmo a que nós crescemos Definimos coisas novas com as frases de há muito tempo Literalmente, a escrita perpetua o pensamento Eu não sou consistente, não me julgues Quando exijo silêncio com as mesmas sílabas Que te peço que não uses Incoerente, limitado a este discurso A única forma de ser específico é com argumentos confusos Vou escrevendo e apagando, ciente destas escolhas Sabendo que falar demais nem sempre é dizer mais coisas Sabendo que são reais as sensações e a energia, tão grande Que até a maior hipérbole a reduzia num instante Lamento as minhas perdas mas estou grato por todas Não me posso afastar de mim p'ra me aproximar das pessoas Procurei compreensão no que via, no entanto Ao fechar os olhos abri-os ao que era mais importante Que é: "Aquilo que sentes neste espaço que fica em branco Aquilo que vês neste espaço que fica em branco Aquilo que ouves neste espaço que fica em branco Aquilo que tens quando o resto fica em branco" Eu digo mais sem dizer nada Eu digo mais sem dizer nada Eu digo mais sem dizer nada Eu digo mais sem dizer nada