Sou brasileiro, bom de bola Ruim de grana Gosto muito de fulana Mas sicrana é quem me quer Se for a tal beltrana A que se deita na minha cama Eu não sou de fazer drama Faço dela minha mulher Se a vida me der limão Eu corto e chupo azedo mesmo Limonada é para pelego Com a cana eu faço cachaça Nada nunca vem de graça O que eu quero eu corro atrás Mãinha desde pequeno Me ensinou como é que faz Malandro sou brasileiro No surf sou campeão Faz muita falta o dinheiro Faz mais falta a educação Se eu chego no estrangeiro Dou aula, sou professor Com meu jeito bem ligeiro Eu levo tudo com amor Com amor É que eu não gosto das segundas-feiras nem intenções É que eu não gosto das certezas Nem das suas razões É que eu não quero a indiferença Que esfria os seus corações O que eu quero é a beleza Das mais puras emoções Eu sou paulista, não turista Eu estou na pista Faço sempre grossa vista A quem quer me derrubar Como casas a rolar Morro a baixo corre a água Molha o rosto essa mágoa Ocupação irregular Já fui caboclo, matuto Sou mameluco Mas me chamam de maluco Por tentar me libertar Eu sou artista, idealista Ativista Não concordo com a revista Nem contrato social Eu não acho natural Tanta fome e violência O governo tem ciência Trata como algo banal Não posso me calar Pois meu povo tem carência Quem nos rege tem demência e Só a arte vai salvar Vai salvar É que eu não gosto das segundas-feiras nem intenções É que eu não gosto das certezas Nem das suas razões É que eu não quero a indiferença Que esfria os seus corações O que eu quero é a beleza Só a beleza das emoções O diz ai Camões Como é que está, como é que foi Onde está aquela poesia Que tu deixou para depois Hoje o meu povo tem fome Sai de casa mata dois Será que é pedir demais Pedir paz, feijão e arroz...