Nas caminhadas da vida Prefiro andar descalça O chão é quente pra nós Mas juntas, somos água Aliviam o peso Elânia me ensinou Ouvir minhas irmãs É a maior demonstração de amor O amor cura, e tá escrito Bell hooks já falou Transbordando dos poros Na fuga da rotina morta, morna Olhos testemunharam choro Que derrete a dor Derrete a dor Choro por estar dolorida Pela alegria, pelo cansaço Na contramão de todo descaso Entre nós, não existe o choro calado E nós choramos Choramos porque até o choro Nos foi negado Mas à dor não queremos estar fadadas, fadados Descendentes não de escravos Mas de seres humanos plenos escravizados Seres humanos plenos escravizados Quero viver E não só sobreviver Fartura de vida plena Em essência Nós merecemos Fartura de vida inteira Imensa, imensa Quero viver E não só sobreviver Fartura de vida plena Em essência Nós merecemos Fartura de vida inteira Imensa, imensa Eu consigo me lembrar De dias negros Até hoje são meus preferidos Os mais bonitos Elas me abraçaram, cantaram Dona Jacira contou suas histórias E nós sorrimos E correu livre o choro enclausurado Pela dureza De toda a selva liberto pelo afeto Silencio, sensibilidade de concepção Em fértil terra Em fértil terra A arte que aflora Dos ventres Colore a quebrada Sabedoria é preta A magia é preta Que me afastam Da ignorância suicida E me aproximam De uma verdade instintiva Dura Mas necessária, etérea Estar emocionalmente viva É a prova mais escura De que nesse sistema opressor O ancestral Ainda encontra brechas Encontra brechas Quero viver E não só sobreviver Fartura de vida plena Em essência Nós merecemos Fartura de vida inteira Imensa, imensa Quero viver E não só sobreviver Fartura de vida plena Em essência Nós merecemos Fartura de vida inteira Imensa, imensa