Valente galo de rinha, Guasca vestido de penas! Quando arrastas as chilenas No tambor de um rinhedeiro, No teu ímpeto guerreiro Vejo um gaúcho avançando Ensangüentado, peleando, No calor do entreveiro! Pois assim como tu lutas Frente a frente, peito nu. Lutou também o xirú Na conquista deste chão... E como tu sem paixão Em silêncio ferro a ferro, Caía sem dar um berro De lança firme na mão! Evoco nesse teu sangue Que brota rubro e selvagem. Respingando na serragem, Do teu peito descoberto, O guasca no campo aberto, De poncho feito em frangalhos. Quando riscava os atalhos Do nosso destino incerto! Deus te deu, como ao gaúcho Que jamais dobra o penacho, Essa de altivez de índio macho Que ostentas já quando pinto: E a diferença que sinto E que o guasca, bem ou mal!, Só luta por um ideal E tu brigas por instinto! Por isso é que numa rinha Eu contigo sofro junto, Ao te ver quase defunto. De arrasto, quebrado e cego, Como quem diz: "Não me entrego, Sou galo, morro e não grito, Cumprindo o fado maldito Que desde a casca eu carrego!" E ao te ver morrer peleando No teu destino cruel. Sem dar nem pedir quartel. Rude gaúcho emplumado. Meio triste, encabulado, Mil vezes me perguntei Por que é que não me boleei Pra morrer no teu costado? Porque na rinha da vida Já me bastava um empate! Pois cheguei no arremate Batido, sem bico e torto . E só me resta o conforto Como a ti, galo de rinha, Que se alguém dobrar-me a espinha Há de ser depois de morto!