O que é que fazes quando o céu tocar no chão? Será que gritas ou estendes a mão? Eu vou estar cá p'ra ver o dia a morrer Tudo é tão pouco quando o nada vencer Vives tão ocupado que nem tens espaço p'ra ser livre Julgas que a vida é tua, mas não és tu quem decide O tempo ri-se de ti, és o bobo da parada Olha p'ra ti insignificante, com esse tanto que vale nada Adoras ostentá-lo, enche-te o ego e aquece a alma Enquanto os traços do teu sonho se apagam da tua palma O teu espírito enfraquece, cede a cada dia que passa Já nem pões nada em causa, faz as horas, colhe a massa És um cromo na caderneta desta colecção fatela Que fica fechada na gaveta até ninguém se lembrar dela Não és elite, esquece o grau, mostra o que vales de imediato Não há CV, só o que se vê, esquece a cunha no contrato Fazes da vida uma corrida em troféus que arrecadas Mas vais de elevador porque dá trabalho subir as escadas Fãs do que é fácil têm nojo do meu suor E tremem a cada linha deste poeta sonhador Vives p'ra cumprir os objectivos de alguém Passaste a ser o que produzes, fora disso não és ninguém Vês tudo a acontecer sem fazer parte do acontecimento És um papel amarrotado a ser levado pelo vento Somas desilusões, aspirações que a vida enterra Saboreias o desgosto que o teu coração encerra És devedor a vida inteira, é suposto que o sejas E vai faltar sempre um pouco para o tanto que desejas Arrumas prémios em prateleiras desta sala fechada E o que interessa está lá fora à tua espera na estrada Demoras sempre mais um pouco e perdes tanto pelo meio O que é feito da criança que sorriu no recreio? Vejo o sonho desvanecer, querem limitar a acção E a independência de outrora é somente uma noção Este é o hino que faltava a esta geração à rasca O grito mudo de um povo com vontade de dizer basta.