Com a raiva de um torpedo Furando o fundo do mar Uma ave no oceano Procurando onde pousar Eu sei que esse voo é cego De morcego sem radar Só a fúria do trovão E a lama ribanceira Atravesso a noite escura Sem saber tempo ou lugar Chuva grossa, céu de chumbo Riacho virando mar Nem sei se ela ainda me espera Com espanto no olhar Ou se a luz dos olhos dela Foi na correnteza O rio levou a rua, levou casa, levou bicho O rio levou meu sonho como se fosse lixo Com a vista enxovalhada Na luz fraca da manhã Agachado ao chão de lama Homem sapo, homem rã Nem sei pra que sirvo agora Minha chama se apagou Cheguei mas não deu mais tempo De salvar o meu amor O rio levou a rua, levou casa, levou bicho O rio levou meu sonho como se fosse lixo Com a raiva de um torpedo Furando o fundo do mar Uma ave no oceano Procurando onde pousar Eu sei que esse voo é cego De morcego sem radar Só a fúria do trovão E a lama ribanceira ♪ A voz rouca que vem do choque das águas Que engrossa o couro da chuva Que desce em cada riacho Brota das montanhas E avança surda no arrastão de tudo O rio em fúria é tão arredio quanto cruel E sua fuga, fúria líquida, líquida liquida Que deixa pra trás cidades fantasmas Ruínas na alma E o silêncio da lama tapando meus ouvidos