Estou cansado de ser vilipendiado Incompreendido e descartado Quem diz que me entende Nunca quis saber ♪ Aquele menino foi internado numa clínica Dizem que por falta de atenção dos amigos Das lembranças Dos sonhos que se configuram tristes e inertes Como uma ampulheta imóvel Não se mexe Não se move Não trabalha E Clarisse está trancada no banheiro E faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete Deitada no canto, seus tornozelos sangram E a dor é menor do que parece Quando ela se corta ela se esquece que é impossível ter da vida Calma e força, viver em dor O que ninguém entende Tentar ser forte a todo e cada amanhecer ♪ Uma de suas amigas já se foi Quando mais uma ocorrência policial Ninguém me entende Não me olhe assim Com este semblante de bom-samaritano Cumprindo o seu dever Como se eu fosse doente ♪ Como se toda essa dor fosse diferente ou inexistente Nada existe pra mim Não tente Você não sabe e não entende ♪ E quando os antidepressivos e os calmantes não fazem mais efeito Clarisse sabe que a loucura está presente E sente a essência estranha do que é a morte Mas esse vazio ela conhece muito bem De quando em quando é um novo tratamento Mas o mundo continua sempre o mesmo O medo de voltar pra casa à noite Os homens que se esfregam nojentos No caminho de ida e volta da escola A falta de esperança e o tormento De saber que nada é justo e pouco é certo E que estamos destruindo o futuro E que a maldade anda sempre aqui por perto A violência e a injustiça que existe Contra todas as meninas e mulheres Um mundo onde a verdade é o avesso E a alegria já não tem mais endereço Clarisse está trancada no seu quarto Com seus discos e seus livros Seu cansaço Eu sou um pássaro Me trancam na gaiola E esperam que eu cante como antes Eu sou um pássaro Me trancam na gaiola Mas um dia eu consigo resistir E vou voar pelo caminho mais bonito Clarisse só tem catorze anos