Saiu de casa às nove e meia Passou por mim como é costume De gente e de gelo estava a rua cheia E as cabeças iam em cardumes Ele andava tal como um bom fotógrafo deve andar Um olho que não vêem olhar Que não vão ver fechar Caiu estendido na calçada "E o que é que eu tenho a ver? Foi ele que escolheu estar ali" Passavam pra frente e para trás, passavam-se por nada Vi-vos a rir mortos de indiferença Ele gelava tal como um coração mau, tentei chorar Afinal eu sou o emblema de quê? Dois, três, quatro, cinco e meia até Que um sem-abrigo apercebeu-se Dedos no pulso Levou-se o corpo em negativo Mas já foi cedo demais Cinco dos vossos dedos têm Prontas na mão sete pedras Se as vossas mãos se calarem Então falarei por elas Eu sou o anjo de pedra Que viu impotente a perda Mas tu que estás revoltado Eu sei que te ias calar também