Minha história simples não é tão contada Mas por meus amigos é bem conhecida Cresci num ranchinho nas terras da brenha Que o fogão a lenha cozia a comida Tinha um candeeiro do pavio comprido Deixando encardido aquele ambiente Quando anoitecia tremulava as mechas E vento espremido passava nas brechas Da janela velha da casa da gente Tinha um pote velho pra matar a sede Com água que vinha lá de um cacimbão Quando arroz da terra a gente colhia A mão se feria na mão de pilão A linha mais alta, a da cumeeira Era de aroeira e o tempo envergou E aquela panela de barro emborcada Era a grande prova que não tinha nada Nos dias de fome que a gente passou O carro de boi das rodas de ferro Gemia bonito vindo do roçado Quando alguém chegava no nosso terreiro Já sentia o cheiro de café torrado Eu tinha um canário que cantou liberto E um cachorro esperto na propriedade Deixei-os com o vizinho e ele me contou Que o canarinho nunca mais cantou E o meu cachorro morreu de saudade A jurema preta logo tomou conta Daquele caminho de acesso a roça Meus pais se mudaram, meus irmãos também Lá ficou ninguém da família nossa Os paus da porteira o cupim comeu A ferrugem deu nos ferros da grelha A panela quebrou-se, levou fim o tacho E o tempo sem pena colocou abaixo Os últimos tijolos da casinha velha