Quando ele a viu chegar
Faltou-lhe o ar
Saltou o respirar, falhou o chão
Faltou-lhe saber quem era
E que mal fizera pra se sentir assim
Ficou ali parado, hipnotizado
Pelo vestido xadrez
E vinha cá fora, de hora em hora
Somente para o caso de ela passar outra vez
Durante dias a fio, não conseguiu
Ganhar coragem p'ra se apresentar
Seguiu-a por todo o lado
Da missa ao mercado, sem falar
E sempre que ela o olhava
Ele desanimava
Sem nunca compreender
Como pode o amor ligar
E ele não atender
Palavras não eram o seu forte
Era perigo de morte
Se houvesse outra maneira
De ela o conhecer
Pensou, talvez se dançassem
Mensagens passassem
Sem ter de as dizer
Passou as noites em branco
De flanco p'ra flanco
Ouvindo e contando de cá p'ra lá
Com a vassoura nos braços
Treinando os passos
A gastar as solas
Entre o tango e o cha-cha-cha
Quando se viu a dançar
Sem se atrapalhar
Sentiu que não podia esperar mais
Valseava de olhos fechados
Ao som das orquestras nacionais
Procurou-a de baile em baile
De xaile em xaile
Sem nunca compreender
Como pode o amor ligar e ela não atender
E se ela não vai
De casa p'ro baile
Vai o baile a casa dela
E se ela diz não
À ida ao salão
Levam-lhe o salão à janela
Foi nessa tarde pelas seis
Que a Rua dos Reis
Viu a matiné que veio a seguir
Subiu as escadas com o rádio
Deixou-o lá p'ra toda a gente ouvir
E desceu a correr cá pra fora
Sabendo que agora
Iam passar um slow
E com o rádio na varanda
Tudo veio ouvir a banda
Ele por fim estendeu-lhe a mão
E ela aceitou