Um, dois Um, dois, três O tempo aumenta a nossa capacidade De engolir sapos à medida que avança a idade A revolta sorri por breves momentos Aceitamos ver a vida com demasiados tons de cinzento Aos dezasseis anos éramos inconformados Dispostos a ser a voz dos que estão calados Aos vinte e sete já queremos ter as nossas coisas Desencantados com a vida e suas prosas Pergunto então, o que quero para mim? Vou aceitar a situação e viver a vida assim? O profundo responde-me, vou fazer o que sempre quis Se eu ouvir sempre o mundo nunca serei feliz Vou afirmar o que penso Tornar pequeno este mundo imenso Trazer as pessoas o brilho do sol depois de um dia chuvoso Quero propor a esperança de um futuro radioso Continuo a sangrar nas letras a noção De um mundo perfeito com leite e pão Com mulheres interessantes e homens honestos Com justiça social e dirigentes lestos Mas a realidade chama-me de volta à bofetadas Este é o mundo das verdades enganadas A humildade me diz Só posso dar ao mundo a mudança que em mim já fiz A presunção afasta-me da lucidez que preciso Pra fazer poesia sobre as ruínas que piso O tempo veio falar comigo e disse-me coisas estranhas Disse-me para estar atento quando caírem as folhas castanhas Que a aurora da minha vida não vem cedo Pra enfrentar a violência da tempestade sem medo Depois dela vem sempre a bonança Que é como um abraço fraterno ou o sorriso de uma criança O tempo veio falar comigo e disse-me coisas estranhas Disse-me para estar atento quando caírem as folhas castanhas Eu falo de coisas simples, das coisas que vivo Que me deixam num estado eufórico ou depressivo Revolta sinto Pelos sonhos afogados em barris de vinho tinto Esperanças antigas inundadas de percevejos Quero de volta as moedas que um dia joguei no poço dos desejos Quero agora a vida que a vida não me deu Preciso conversar com Deus ele fez-me ateu Porque esse mundo é muito atoa As pessoas não prestam A indiferença me magoa Poucas coisas boas me restam Tar com os amigos a passear de cima a baixo Compôr, a ver se no beat me encaixo Os momentos de recolhimento em que converso comigo Caminhar de noite tendo só as estrelas como abrigo Eu atingi a idade da razão Estou na encruzilhada da vida tenho de tomar uma decisão É a idade das opções difíceis Da busca daquilo que nos fará felizes É a idade de estar só com as pessoas Que nos dizem na cara aquilo que nos dizem nas costas É a idade da tranquilidade Das verdades que afastam ou preservam a amizade Estar sozinho por vontade Do autoconhecimento e humildade Que trazem sempre a lucidez necessária Pra se preservar uma consciência revolucionária Segunda metade dos vinte Vinte e seis anos O cabelo tá a cair A barba tá mais rija O olhar mais cansado também Porque o tempo deixa as suas marcas fora Mas dentro também E as de dentro são se calhar as mais profundas As exigências são muito maiores Quando se está perto dos trinta Quando se está a olhar já pros trinta Vejo os meus amigos todos Alguns com filhos, alguns casados Mas todos com os olhos no futuro A idade da razão O tempo veio falar comigo e disse-me coisas estranhas Disse-me para estar atento quando caírem as folhas castanhas Que a aurora da minha vida não vem cedo Para enfrentar a violência da tempestade sem medo Depois dela vem sempre a bonança Que é como um abraço fraterno ou o sorriso de uma criança O tempo veio falar comigo e disse-me coisas estranhas Disse-me para estar atento quando caírem as folhas castanhas O tempo veio falar comigo e disse-me coisas estranhas Disse-me para estar atento quando caírem as folhas castanhas Que a aurora da minha vida não vem cedo Para enfrentar a violência da tempestade sem medo Depois dela vem sempre a bonança Que é como um abraço fraterno ou o sorriso de uma criança O tempo veio falar comigo e disse-me coisas estranhas Disse-me para estar atento quando caírem as folhas castanhas