Já tudo dorme, vem a noite em meio. A turva lua vem surgindo além. Tudo é silêncio; só se ouve nas campas piar o mocho no cruel desdém. Depois, um vulto de roupagem preta, No cemitério com vagar entrou. Junto ao sepulcro, se curvando a medo, Com triste frases nesta voz falou: Perdão, Emilia se manchei-te a vida Se fui impuro, fui cruel, ousado Perdão, Emilia se manchei teus labios Perdão, Emilia para um desgraçado - Monstro tirano, porque vens agora Lembrar-me as mágoas que por ti passei? Lá nesse mundo em que vivi chorando, Desde o instante em que te vi e amei. Chegou a hora de tomar vingança, Mas tu, ingrato, não terás perdão... Deus não perdoa as tuas culpas todas, Castigo justo tu terás, então. Perdi as flores da capela virgem Cedi ao crime que perdão não tinha Mas tu manchaste a minha vida honesta Depois zombaste da fraqueza minha Ai, quantas vezes aos meus pés curvado Davas-me prova do teu puro amor Quando eu julgava que fosses um anjo Não via a fundo nesse olhar traidor Mas vejo agora que o corpo enterra Tombou, de chofre, sobre a lousa fria. E quando a aurora despontou, na lousa Um corpo inerte a dormitar se via: - Perdão, Emília, se manchei-te a vida, Se fui impuro, fui cruel, ousado... Perdão, Emília, se roubei-te a vida Perdão, Emília, para um desgraçado.