Madrugada O ruído das máquinas possantes bem mais quietas E a cidade menos nervosa, sem muita agitação Fui ouvir a simplicidade de dois poetas Que vieram falar de coisas simples lá do meu sertão Nessa hora tudo parou, o silêncio foi profundo E pelo meio desta floresta de cimento armado Ouvia-se a viola que me calava fundo Falei de saudade do meu sertão amado Não há, não há lugar igual aqui A lua faz morada no sertão em que nasci Um poeta falou do meu passado E também de minha infância E meu ranchinho, minha antiga moradia Falou da natureza E de uma porteira velha, onde num mourão João Pacífico deixou sua poesia Lá no mourão esquerdo da porteira Onde encontrei você pra despedir Tem uma lembrança minha derradeira É um versinho que eu nele escrevi E continuou falando de amor Quem amava com firmeza Falou de Chico Mulato, o maior dos cantador Falou de sua amada Aquela, aquela cabocla Teresa Que todo sertão conhece Por sua história de amor A tempo eu fiz um ranchinho Pra minha cabocla morar Pois era ali o nosso ninho Bem longe desse lugar E falou com emoção Pois falou com tanta mágoa Daquela sua promessa Daquela seca tremenda Meus olhos não resistindo Deu mais um pingo d'água Lembrei de minha boiada Lembrei da minha fazenda Eu fiz promessa Pra que Deus mandasse chuva Pra crescer a minha roça E vingar a criação Pois veio a seca E matou meu cafezal Matou todo o meu arroz Sapecou todo algodão E a madrugada se foi Se foi o som da viola Voltei pro meu gabinete Pra outro dia enfrentar Mas Deus que é sertanejo A minha mágoa consola Com meu pedação de sertão Eu vivo sempre a sonhar Eu vou dizer com toda sinceridade O que ainda mora no meu coração Estou vivendo na grandeza da cidade Mas não esqueço meu pedaço de sertão