Foi no princípio dos tempos Foi no início de tudo Foi quando a rosa dos ventos Se pôs a girar o mundo Eram dias nevoentos Eram noites de breu puro E o mais profundo silêncio No mais terrível dos mundos Os habitantes das casas Dispersas no quase-nada Oravam perante as brasas Mas criam, sim, nas adagas Pois rondavam, temerários Como gigantes morcegos Sobre patas de cavalos Sempre a morte prometendo Chapéus negros, negros ponchos Ombros erguidos de águia Braços longos, finas garras Ventas enormes de assombro Pavor insone nas casas Serão monstros, serão homens? Serão deuses ou fantasmas? Serão monstros, serão homens? Surgiam na noite vaga Vagavam na névoa gris Talvez homens, talvez almas Que o purgatório não quis Fugidos dos entreveros Feitos de ódio e de medo Vagando pelos invernos Sempre matando e morrendo Ficaram no vão da história (e) não saberemos agora Se foi por medo ou por glória Se foi ocaso ou aurora