"Deus num pode dar tudo só pra um que falta pros 'zôto" Noite cai, pinta o céu azul Com a cor dos urubu que rodeiam aquele animal Que tá morto acolá Lá do lado de lá Não suportou tanta sede, tanta angústia, tanta dor Sofrimento à flor da pele Tome conta, meu senhor Tome conta, meu senhor Cansado dessa agonia de morar no interior Vim embora pra cidade Pra ser mais um sofredor Carregando em minhas costas o peso da ilusão De ter casa, ter dinheiro De não me faltar o pão Larguei minha família, ficou pra trás o sertão Tenho que pensar na vida E esquecer o coração Vendo amanhecer o dia, sem encontrar a solução Perambulo pelas ruas E do meu lado a opressão Agora o que me resta? A dor da decepção Volto pra morrer de fome E me enterrar lá no sertão