Cresci no campo e comprovo na minha estampa Moro na grota num rancho a beira da sanga Perto do mato onde como frutas silvestres Aritchicum, guabiroba e pitanga Cruz de Lorena pendurada sobre o peito Pra impor o respeito e me livrar dos males e assombros Chapéu bem grande, bombacha larga e o lenço Bota e guaiaca e um pala sobre os ombros Quando eu acordo no meu ninho de pelego Fico escutando ao longe o berro do gado O quero-quero o guardião das madrugadas Com seus filhotes se escondendo no gramado Saio a procura de uma galinha matreira Tô procurando e me ferroa um camoatim Encontro ela se levantando do ninho E vem um lagarto se arrastando no capim A saracura grita adivinhando chuva E um pica-pau entronado na tronqueira Sento na sombra pra tomar meu chimarrão Um leitão guacho vem e me virar a chaleira Isso acontece pra mim que vivo no campo Escrevo e canto esses versos galponeiros Graças a Deus sigo de pé no estribo Adoro e vivo esta vida de campeiro