Debaixo do pé, a terra vira pó Sem espaço pra minha fé, tô lotado de nó O amargo do café com o azedo do gogó C'est la vie e ela quer me levar daqui só Então abra a cortina pra nós, nossa vez, quero voz Quero reis aos meus pés, quero mais, quero pós Em saraus quero mais que refrões Quero mantras, canções que preencham cabeças, pulmões Se o mundo acabar hoje, não me chame Tô pondo demônios no papel antes das aulas de origami Verbo flui como mel, pois na cabeça tenho enxame Confundiram com poesia meus cadernos de auto exame Sou só energia, sou sopro de norte a sul Me esvazio e não quebro, sabedoria do bambu Se o pé no chão for raiz, elevação é deja vu Nasci escuridão, música foi abajur Cheiro da terra mudou Eu deixo a chuva cantar Pego a terra pela mão E limpo os pés pra entrar Caixão de cimento pro ambiente Mundo doente, é foda nascer semente Alcance de raiz não se compara ao de wifi Promessas de florestas em fábricas de bonsai Cultivar idéia, lapidar a jóia Convence a grama que ela nasceu pra ser sequóia Eu sou esboço desde os 21 de idade Me enterre até o pescoço, sou bom de profundidade Aqui tô perto do centro, me perco, o universo é dentro Me fecho e deserto é meu templo Silêncio é santo se eu for barulhento Não quero fogo de palha, quero viver de escolha Espinhos pra furar bolhas, quero alimentar minhas bolhas Quero forças pra pular, pra sentir falta do chão Quero me desligar pra entender conexão Meu passo descalço é discreto no mato Não mato um inseto, não movo um graveto Meu rastro é lembrete, uma nota, um soneto Que vive no ato de ser só trajeto Cheiro da terra mudou Eu deixo a chuva cantar Pego a terra pela mão E limpo os pés pra entrar