Recorro campo sozinho, Nem "carculo" a quanto tempo. Quando em quando um assoviozinho Se vai perdido no vento. Quietude nestas jornadas E a alma não se machuca. As vozes das invernadas, Sem silêncio, não se escuta. O arroio canta pra pedra, Pra noite o grilo nochero, O arado fala com a verga E a estrela com o caborteiro. Campo tem voz de porteira, De retoço da manada, Tem vento que chama poeira E o mormaço, a manga d'água. Chuva no poço da sanga, Rufar de pala de seda. Canta o sabiá pra pitanga E o angico pra labareda. É lindo o ranger do arreio No escurão da noite cega E o vento sul de floreios No encordoado das macegas. Quieto, cruzando o potreiro, Quando a manhã se perfila, Passo escutando o barreiro Saudando um rancho de argila. Guabiju!... Ariticum!... Range o rodado e se foi... A voz do homem comum é o tempo chamando o boi. Tropel em várzea encharcada, Mareta beijando a taipa. Na aragem da madrugada Cruza um sussurro de gaita. Com esse assovio antigo E os cascos sonando o pasto, Meu mundo fala comigo Pelos fundões donde eu passo. Não pense que eu sou sozinho... Que são tristes os dias meus... Ouço juras e carinhos Desses campos de meu Deus. Recorro os campos solito, Nem "carculo" há quanto tempo. Quando em quando um assoviozito Se vai perdido no vento. Quietude nestas jornadas E a alma não se machuca. As vozes das invernadas, Sem silêncio, não se escuta.