Eu venho d'aonde o vento assovia na crina dos potros Que correm libertos nas imensidões dos banhadais... E os domadores são homens que fazem tropilhas pra os outros, Que aos gritos de forma, empeçam a lida palmeando buçais... Eu venho d'aonde o cantar das esporas ainda ressona No embalo do trote, que leva o campeiro pra o seu compromisso, E o rangido do basto é um sentimento apertando a carona, Sabendo que a vida, do peão de estância, se alimenta disso. De lá de onde eu venho, eu trago a certeza que a gente é capaz De parar o tempo por algum instante e ver de olhos fechados... Podendo sentir que o campo é um regalo que tão bem nos faz, Escutando ao longe, murmúrios de sangas e berro de gado. Eu venho d'aonde o aperto da cincha garante o sustento De quem alça a perna, firmando nos loros a obrigação De escorar o tranco, qual um laço forte que em cada tento, Forceja parelho, unindo suas forças pra aguentá o tirão. Eu venho d'aonde os calos das mãos e as rugas do rosto São marca e sinal, daqueles que enfrentam mormaços e geadas... Com pilchas e garras judiadas da lida que é feita com gosto, Quando assim lhe toca, recorrer o fundo de uma invernada. Eu venho d'aonde o mensual é um soldado disposto ao combate, Servidor da pátria, que mete o cavalo junto do fiador... E encerra o dia com o pingo lavado e roda de mate, Recontando os feitos de um rodeio grande n'algum parador. De lá de onde eu venho, eu trago o aroma dos galpões de encilha... Estalar de brasas, cambona chiando e o fogo graúdo... Onde o mundo grande se pára pequeno num rádio de pilha, Pra amansar a vida, quando alguém de longe nos manda um saludo.