Êxodo. Foi este o destino das centenas de milhares de pessoas Recém libertas da escravidão. Deixaram as fazendas e o interior do país E migraram em massa para as grandes cidades Onde se encontraram com outros grupos de migrantes De outros lados do país e do mundo. E a maior das cidades na época, era, naturalmente A capital do país: o Rio de Janeiro. O Rio foi o grande cruzamento de caminhos Onde se encontraram e se misturaram Pessoas das mais variadas origens, idiomas e religiões. Convivendo na precariedade E compondo um fumegante caldeirão cultural De onde vai emergir, entre outras coisas, o samba. Um dos centros deste caldeirão era a Praça Onze de Junho Que ficava entre os limites do centro histórico e o cais do porto. Nos arredores desta praça viviam Alguns dos tais imigrantes europeus Que vieram tentar a sorte no novo país. Muitos deles portugueses Também pequenos comerciantes judeus Uma colônia de ciganos, e, é claro Uma enorme coletividade de descendentes de escravizados africanos Que vinham de toda a região das fazendas de café do sudeste Mas uma grande parte também do nordeste do Brasil Especialmente da Bahia. Esta população, pobre e ruidosa Era exatamente o que as autoridades chamavam de: Gente perigosa. O tipo de gente que os governantes Queriam ver bem longe do centro da cidade. Porque se o país devia se branquear A cidade devia se higienizar. Ou se "civilizar", como eles diziam. Tanto é que, ao desenhar os planos de abertura Da grande e imponente Avenida Presidente Vargas Na década de 40 O próprio sr. presidente Getúlio Vargas Pediu aos engenheiros que a fizessem passar Bem por cima da Praça Onze. Este traçado não era necessário para a obra. Porém, não se podia perder a oportunidade única A justificativa perfeita Para expulsar do centro da cidade toda aquela população Pobre e "perigosa". De derrubar as casas onde eles viviam E destruir a praça onde eles conviviam. E assim foi feito. A Praça Onze, berço dos primeiros sambistas Não existe mais.